Decadência gloriosa
2013- 2020
©Ana Pereira
Unidos num mesmo momento geracional, social, evolutivo.
Entre a exploração do mundo terrestre, a herança histórico-biológica do que foi e uma sensação etérea do que será, prospecção do universo mental global. A esperança de Pandora projectada numa emoção reflexo geminóide.
Adultos que o não querem ser. Que perpetuam o passado sem querer. Que projectam nas relações sociais, amorosas, sexuais e virtuais uma ideia de protecção parental ad eternum.
Um tempo que não quer crescer. Porque tem medo. Medo porque tudo o que foi lentamente vai cessando de ter possibilidade de sobrevivência futura e o que vai ser ainda não é um modelo aprovado, comprovado, existindo ainda e só no mundo das ideias puras, sem certificação experimental.
E na fronteira do abismo e da esperança acreditamos que talvez seja possível tocar no mundo com o que sobra de nós.
Mademoiselle
©Ana Pereira
A premissa para esta série Mademoiselle, foi um diálogo fotográfico, tendo as diversas perspectivas perante a vida como elemento base.
O retrato é matéria sensível da fotografia, ao adereçar elementos fundamentais da intimidade e da construção de cada um de nós.
Neste presente enquadrado numa crise económica e estrutural, que nos afeta o sentimento de esperança e de pertença, algumas questões levantam-se sobre o sentido do feminismo hoje em dia e o espaço da criatividade no seio da sobrevivência quotidiana.
O Mundo das pequenas coisas
Imagens de um presente em pausa
segunda parte
©Ana Pereira
Lisboa e Alcobaça 2015
Quem somos nós hoje e que rosto temos?
Estas imagens são uma tentativa fotográfica de contemplação do presente. Através de algumas estratégias formais do passado – os fundos com referências paisagísticas e os códigos de formalidade que peço aos retratados para adotarem.
Ponte de Lima 2016
Desde que conheço o Manuel Pimenta, que imagino a narrativa da sua vivência na farmácia, em imagens e palavras.
Muitas vezes pensava nos Retalhos televisionados da vida do médico Fernando Namora, que tanto me impressionaram quando cheguei a Portugal em criança.
Neste projeto de retrato, utilizei algumas estratégias formais do passado, como os fundos com referências paisagísticas e os códigos de formalidade que peço aos retratados para adotarem. Abordagem fotográfica essa que tenho vindo a desenvolver nos últimos anos.
Estes Retratos de uma farmácia, procuram ser uma representação pictórica presente da farmácia da Misericórdia em Ponte de Lima, sendo naturalmente uma homenagem, sob a forma de retrato fotográfico a todas estas pessoas, que quotidianamente por ali passam.
Teresa ou Audrey says
©Ana Pereira
O Mundo das pequenas coisas.
Parte I. 2008. 16 imagens
©AnaPereira
Tenho alguns retratos antigos que fui guardando, imagens da família perdida no Brasil, imagens de desconhecidos que comprei em feiras de velharias e outras que açambarquei por meios menos lícitos.
Antes da minha vida se cruzar com a fotografia para nunca mais se ir embora, estas imagens já me acompanhavam.
O passado interessou-me sempre mais do que o presente e obviamente muito mais do que o futuro.
Demorei anos a tomar consciência de que no passado existia cor, sim para mim o passado era a preto e branco e sépia, mesmo a realidade do dia-a-dia.
Pensava em como os rostos dos homens, mulheres e crianças foram mudando, tornando-se mais leves.
Depois com a fotografia entendi que uma parte desse peso que eu via nos rostos do passado, tinha mais a ver com os processos fotográficos usados e os tempos de exposição do que com as agruras da vida e alterações antropomórficas.
Desde que descobri o trabalho do Joel-Peter Witkin e da Sarah Moon, no final dos anos 90, que me persegue a ideia de pintar um fundo como os destas imagens antigas e andar com ele pelas ruas do mundo a fotografar pessoas.
O Geo fez-me este fundo e decidi começar esta série de retratos, ali mesmo, na minha sala.
Tecnicamente interessava-me explorar o trabalho de retrato, frontal, pose clara.
Trabalhar com o maior número possível de pessoas, o mais diferentes entre si e de mim e trabalhar a aproximação com as pessoas e o retrato.
Depois interessava-me trabalhar a manipulação digital.
E penso no que o Fabio Iaquone me disse uma vez: quando tiveres uma ideia, executa-a logo, sem esperar, sem olhar para trás, porque as ideias circulam numa rede global e o que faz com que o teu cérebro despolete o pensamento que te vai levar a determinado resultado, é o mesmo e incompreensível facto que fará com que mais alguém, noutra parte qualquer do mundo, mais tarde ou mais cedo produza a mesma ideia.
O Mundo das pequenas coisas. parte II.
2009. 8 imagens
©AnaPereira
Procuro neste projecto uma aproximação à tradição fotográfica da carte-de-visite, prática comercial fotográfica do final do século XIX, caracterizada em particular pelas poses marcadas dos retratados e pela utilização de fundos que remetem o nosso olhar para um ideal de paisagem pictórica e de vida exterior ao estúdio.
Em Rio de Frades, realizei dois conjuntos de imagens, um de retrato sob um fundo branco e outro conjunto de imagens representativo de uma visão de paisagem, de forma a posteriormente realizar um compósito de retrato e paisagem.
Trabalhei tanto a paisagem rural como a paisagem abandonada do antigo couto mineiro de Rio de Frades, localizada na freguesia de Cabreiros, local onde foram demarcadas as primeiras minas de volfrâmio em 1914.
Logo na primeira visita à aldeia, entendi que a população desta povoação dividia-se em dois grupos distintos, um grupo que tinha trabalhado nas minas e outro grupo que não e com esta demarcação populacional em mente, fiz a construção das minhas imagens.
No caso das pessoas que trabalharam nas minas, Dª Aurora, Srº José, Dª Argentina e Dª Alzira a imagem final que apresento é um compósito do retrato com uma paisagem actual das minas desactivadas, no caso das pessoas cuja vida profissional não passou pelas minas, uno o retrato a uma paisagem da aldeia de Rio de Frades, a saber Dª Lina, Dª Isaura, Dª Anabela, Dª Fernanda e Dª Adelaide.
O Mundo das pequenas coisas
Imagens de um presente em pausa
Porto 2010. 20 imagens
©AnaPereira
Quem somos nós hoje e que rosto temos?
Uma nova urbanidade desponta na cidade, caracterizada por uma maior convivência étnica e a coexistência de classes sociais distantes, numa cidade com laivos de ruralidade, tendo a periferia um peso essencial na construção da identidade, social e cultural.
Este trabalho visa analisar como pode a fotografia tratar os mesmos temas que as ciências sociais e humanas, criando um corpo de trabalho que acompanha a evolução da história do estúdio fotográfico recorrendo ao processo da carte-de-visite.
Tendo estas questões como linhas orientadoras, realizei um projecto de retrato que aborda as questões da diversidade étnica e social no seio da cidade do Porto, recorrendo a uma estrutura formal que advém da carte-de-visite.
Garbage Story’s – As histórias românticas do lixo.
Parte 1. 2006.
©AnaPereira
Abandonamos os objectos como as pessoas, às vezes com calma, às vezes friamente e, por vezes, sem perceber que o fizemos.
Não somos capazes de transportar ao longo da vida todos os objectos que nos rodeiam e por isso, vamos preterindo uns a seguir aos outros, como os brinquedos que as crianças deixam para trás a cada novo que chega.
Estes objectos de lixo que encontro na rua, aparecem sempre isolados, como se alguém os tivesse ali pousado, ali naquele sítio especifico.
Quase como se o mundo se organizasse em torno deles, deixando sempre um vazio, vasto e estranho em torno de tudo o que é deixado para trás.
Garbage Story’s- As histórias românticas do lixo.
Parte 2. 2010
©Ana Pereira
Estender o enquadramento fotográfico, de forma a chegar a um contexto geográfico, não mais uma abstracção pictórica, minimal e romântica.
De forma a entender como estes objectos-lixo se relacionam com a cidade.
A tela de uma história que não se acende.
2008.20 imagens
©AnaPereira
A propósito do trabalho do Teatro Bruto Alter-Ego, fui procurar as salas de cinema da cidade do Porto, algumas actualmente encerradas ou com actividades paralelas à exibição de filmes.
Procurar as imagens, os fantasmas, as memórias e particularidades de cada sala.
Abertas as portas e acessas as luzes, a vida volta a encher estes espaços. Sentem-se os cheiros, são visíveis as marcas das histórias que se viveram, nas imagens, nos recados, nas fotografias, em todas as provas de memória.
E estes momentos em que estou a fotografar, são apenas pequenos intervalos de tempo, entre sessões, entre filmes, entre histórias.
As filhas de Lilith
2003
Como é que as outras mulheres vivem? Com o seu corpo, as outras mulheres, os homens, a maternidade, as convenções? Amantes, namoradas, mães, filhas, companheiras, virgens, mulheres? Ainda somos discriminadas, ainda somos objectos sexuais, lutamos, perpetuamos ou é-nos indiferente? E estas mulheres, são extraordinárias, incomuns ou mulheres normais? E o que é ser uma mulher comum em Portugal neste novo milénio?
Fotografar estas mulheres, herdeiras e criadoras desta sociedade ocidental. Filhas de Lilith. A primeira mulher de Adão. A primeira mulher a lutar contra a dominação e a primeira a ser para sempre condenada, pelo desejo de se manter livre.
“Alice, afinal não havia nada do outro lado”. 2001